quarta-feira, 1 de abril de 2015

O país do imediatismo agora resolveu direcionar sua fúria imbecil pra juventude


Acho louvável que quem comete um crime, principalmente dos 14 anos em diante, deve, sim, ser julgado. Mas cada caso é um caso, um processo cauteloso que o Brasil não tem capacidade pra realizar. A burocracia, que viabiliza a corrupção e o jeitinho, não iria permitir. Reduzir a maioridade pra 16, apenas, é de uma irracionalidade e imbecilidade tamanha. A conjuntura social deve, sim, formar uma conjectura de personalidade. Só que o país não tem estrutura, não tem políticos nem sociedade de conduta ilibada. Seriamos uma fabrica mortífera de jovens encarcerados, monstros com dia, data e horário pra sair de uma jaula insalubre e desumana. 

Amigos, pensem: Não estamos – nem somos – primeiro mundo. 

A cadeia, que deveria socializar, demoniza. Aqui bandido manda matar de dentro de casas de detenção com proteção máxima. Bandido faz churrasco e bebe cerveja aos domingos, nos pátios das penitenciarias, zombando da sociedade que trabalha diariamente pelo pão de cada dia. Já dizem os profissionais do crime que só sobrevive a uma penitenciaria quem souber dos “paranauês”. 

Antigamente, ouvia dizer que cadeia era graduação em bandidagem. Quando criei consciência social e politica descobri, infelizmente, que a graduação está nas diferenças sociais impostas por um sistema falido, uma sociedade egoísta que só olha para o próprio rabo e totalmente – olha aí a prova – imediatista. Nós somos professores da graduação. Quando um meliante é preso, ele se especializa. E a pós graduação é fria, sanguenta e intempestiva. E volta em forma de violência pra casa da gente. Temos um Estatuto da Criança e do Adolescente belíssimo. Mas, como tudo no Brasil, as pompas não se realizam nas circunstancias. É mais fácil prender o filho do preto e do pobre do que exigir educação e condições sociais de qualidade. Temos uma policia mal paga, desvalorizada pelo poder público e em sua maioria despreparada psicologicamente que mata e que tortura. 

Temos comunidades que elegem bandidos como heróis, porque não confiam na polícia. Aqui, apologia ao crime faz sucesso. Ganha a massa. Aparece na mídia como espetáculo de gala. 

A música popular de vinte anos atrás reverberava que nossos heróis morriam de overdose. 

Hoje, nossos heróis estão matando e financiando o tráfico e o crime. 

Em 2014, no Brasil, foram mais de 56 mil assassinatos. 153 mortes violentas por dia, na média geral. O Brasil matou mais no ano passado do que o Estado Islâmico e do que o Iraque a Síria e o Afeganistão, juntos. Dessa estatística, sem surpresa alguma, são filhos de negros e pobres das periferias das grandes cidades a sua maioria. 

Outra questão que não deve ser esquecida é o apadrinhamento filho de uma puta desse país. Filho, sobrinho, primo da quarta geração, amigo do amigo de empresário, de político, de juiz, de policia, de artista ou de alguém que tenha a pouca merda de uma influencia que consegue se safar de crimes. Ou seja, teremos mais jovens de 16 anos, preto e pobre, nas jaulas, do que filhos de pais ricos, mau caráter que, mesmo com todas as oportunidades oferecidas, resolveram queimar índio e mendigo na praça pública, beber, dirigir e matar nas estradas. 

Enquanto deveríamos estar discutindo como melhorar a qualidade das escolas públicas, enquanto deveríamos discutir maneiras de viabilizar a prática do nosso belíssimo ECA, trilhões são repartidos pelos partidos políticos em corrupção e, cada dia mais e mais crianças estão nascendo e sendo jogadas nos becos e vielas dessa pátria, por vezes, nem tão gentil. Alguns até podem alegar que meu discurso é invariavelmente eficaz nos contos de fada. Isso porque, até o momento – e espero que assim continue – ainda não fui vitima direta ou indiretamente de nenhum tipo de violência cometida por um menor. Porém, não seria eu, mesmo que juiz fosse, emocionalmente envolvido com o caso, com a sede do “olho-por-olho / dente-por-dente” que iria julgá-lo. 

O que venho percebendo é que o brasileiro tem andando no caminho inverso da democracia conquistada. Pede-se impeachment de presidente eleita pelo povo. Quer que Dilma saia no grito, escorraçada, como se isso fosse resolver um problema que está no sangue, consciência e cara de pau pintada da grande maioria que foi pra rua nos últimos dias – a outra metade sequer sabia o que estava fazendo ali. 

No Brasil, onde é mais fácil fazer campanha pra boicotar novela do que mudar de canal ou simplesmente desligar a tv. 

No Brasil, onde existe no congresso uma bancada conservadora enquanto milhões estão sendo desviados dos cofres públicos e todo mundo finge que não vê, pois é mais fácil mudar o foco do problema. "Vamos colocar Marcos Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos enquanto roubamos a Petrobras e colocamos Rennan Calheiros na presidência do Senado.”, devem debochar, eles, nos corredores ardilosos de Brasília. 

No Brasil, onde agora o extermínio de jovens negros e pobres terá a chance de ser legitimado pelo Estado, afinal, com monstros enjaulados, nas piores condições possíveis, com data e hora marcada pra sair, fica mais fácil manter a grande parcela da sociedade amedrontada, adestrada e presa em seus condomínios com tudo dentro. 

Reduzir a maioridade penal é uma decisão que nos mostra o quanto ainda somos imaturos quando o assunto é Direitos Humanos. É atirar pela janela a oportunidade que temos de socializar e educar a nossa juventude. É tudo o que os bandidos que estão em Brasília querem: Uma nação rica, que economiza com professor e escola pra pagar miséria a polícia e carcereiro e, consequentemente, uma nação sem futuro, pra eles continuarem metendo a mão no nosso bolso. É nojento. É uma afronta a quem acredita em um país melhor. 

Sendo até um pouco fatalista, esse é um dos maiores e mais cruéis atentados contra o futuro dos nossos filhos e netos. Porque o problema não está no jovem frio e psicopata de 16 anos que cometeu um crime - problema mental é patologia e precisa ser tratado em qualquer idade - mas, sim, nas crianças e jovens que não terão oportunidade porque o sistema assim deseja. 

E que já estarão condenadas, desde a fila (do SUS) da maternidade, a correr pro bicho pegar.