O caso se trata de uma mineradora clandestina que funciona próximo a barragem Pedra do Cavalo, uma das principais da Bahia que, além de fornecer água pra Salvador, gera energia. É muita água represada, que fica a poucos metros das cidades de Cachoeira e São Félix. Detonar pedras, sabe-se lá com quais critérios de segurança e estudo, tão próximo a essa barragem, não é uma boa ideia.
Tudo começou com uma publicação no meu perfil do Facebook. Ouvi uma barulho, por volta das 23 horas, e questionei na página do Facebook se aquele som seco e forte era oriundo de uma explosão. Pensei em algum caixa eletrônico em uma das três agências bancárias da cidade. Essa hipótese foi descartada logo, após alguns contatos com policiais.
Na mesma postagem, moradores das cidades de São Félix, Cachoeira e Governador Mangabeira se manifestaram afirmando terem ouvido o barulho. Nenhum banco dessas cidades também sofreram atentados do tipo. Fui dormir e, quando acordei no dia seguinte, uma denúncia: "A explosão é na mineradora clandestina na BR 101, após entrada de Muritiba. Verifique. É próximo a barragem.", dizia a mensagem.
Após receber a denuncia, fui lá ver com meus próprios olhos. E com uma máquina na mão, entrei no local, com medo. Muito medo. Confesso que na hora não senti absolutamente nenhum calafrio irradiando para a espinha dorsal. Só queria conferir com os meus próprios olhos que, aquela informação vinda de uma fonte, era verídica. E foi. Apontei a máquina e tirei as fotos.
Saindo do local, já na BR 101, repensei o perigo que corri entrando sozinho naquele local de mata fechada. O prazer veio junto com o medo. Consegui as imagens. Agora era atestar que aquela situação se tratava, realmente, de uma atividade de mineração.
Porém, só quem poderia me dar essa informação era algum técnico da área. Quando entrei em Muritiba, vi a pedreira. Essa, dentro das leis que regem a atividade. Entrei e procurei alguém para analisar as imagens. "Provavelmente é uma atividade de mineração.", disseram.
Pronto. Já tinha as imagens.Tinha também a confirmação dos fatos. Agora era relatar.
Não é bem assim. Como dizer para os moradores de São Félix e Cachoeira que existe uma mineradora clandestina detonando bomba, explosivo ou qualquer outra coisa ilegal, a menos de 2km da barragem?
E essa era a minha maior inquietação: Eu precisava ter muito cuidado com as informações - responsabilidades exigidas na profissão que quero seguir - e procurar as fontes certas, pois a matéria poderia causar um pânico nos moradores das cidades vizinhas à barragem.
Depois de conversar com uma Técnica em Segurança do Trabalho, responsável pela Mineradora que funciona legalmente na entrada da cidade, fui pra casa. Transferir as fotos da máquina pro computador e comecei a escrever a matéria.
Após alguns minutos, ela estava quase pronta. Tinha o relato, as distâncias obtidas com a ajuda do Google Earth e a declaração da representante de uma mineradora que funciona legalmente, para explicar aos leitores quais os procedimentos de praxe em uma atividade como essa. Ainda faltava mais.
Claro, e os responsáveis pela barragem? Não teriam eles que saber do fato? E se já soubessem? Detonações tão próximas não seriam ouvidas por membros da empresa? Da Cerb? Do Inema? Da Votorantim?
Ora, se eu, responsável por escrever aquela história, questionava tais pontos, imagine os meus leitores?
Comecei então a pesquisar telefones: da Cerb, do Inema e da Votorantim. Lembrei, em seguida, que tinha um amigo que trabalhava na Votorantim. Nada melhor do que um contato como esse para me guiar até as pessoas certas, não é verdade?
Falei com essa fonte na manhã do dia seguinte. Relatei os fatos e, claro, ela demonstrou grande preocupação. Me passou números, nomes e direcionamentos. Perfeito.
Ligações e mensagens. Trocas de email. Situação encaminhada e aguardo de respostas. A primeira pessoa que me deu um retorno foi uma engenheira, da coordenação de segurança de barragens, representando a Cerb. Para quem não sabe, Cerb é a sigla para Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia. Esse órgão pertence ao Governo do Estado e é um dos responsáveis, junto com a Votorantim, pela Barragem Pedra do Cavalo.
A Cerb demonstrou total preocupação com o assunto. Na mesma semana, encaminhou uma equipe e visitou o local, tirou as coordenadas geográficas, fotos e alertou a Votorantim sobre o problema.
O que eu queria era simples: Uma palavra, um atestado, algo oficial da empresa que pudesse ser encaixado na matéria em questão que pudesse acalentar o impacto da notícia. "É perigoso para a barragem? Não é perigoso?". Questões simples e objetivas que deveriam ser respondidas antes da matéria ir pro ar.
Não sou um lunático. Sei que as pessoas, mesmo com todos os documentos, assinados pelos melhores engenheiros e técnicos do mundo, iriam cogitar a possibilidade de uma tragedia. Questionar os perigos. Insinuar eventos catastróficos. Afinal, eu, como emissor de uma notícia, não posso me responsabilizar totalmente pela maneira como o receptor irá interpretá-la. Porém, tenho que ser o mais claro, objetivo e responsável possível.
Após a engenheira que mantinha contato conosco finalizar o relatório para a diretoria da Cerb, e a Cerb encaminhar um relatório para o Inema - que, por sinal, até hoje não respondeu aos nossos emails - a resposta veio.
Foi mais ou menos assim: "Provavelmente, devido a distância e desnível, as explosões não atingem a barragem. Porém, só especialistas em detonações poderiam, com segurança, afirmar isso."
Eu sei, vocês vão se perguntar: Agora você foi procurar um especialista em detonação?
A resposta é: Não!
Fechei a matéria e publiquei no dia 03 de novembro. Claro, após um mês e com explosões ainda acontecendo, é obvio que a publicação deveria sair. Eu já tinha certeza que se tratava de uma mineradora clandestina, já tinha o posicionamento de um dos responsáveis pela barragem e tinha imagens e texto.
Cabe agora as autoridades competentes tomarem as devidas providências. O fato já é público, os órgãos fiscalizadores já tem conhecimento - soube que o INEMA já esteve no local - e ponto final.
Poderia ter publicando antes, mas minha consciência não deixou. Analisar friamente os fatos e respirar fundo, nessa ordem mesmo, me ajudou nesse processo de ser meu repórter e meu editor chefe ao mesmo tempo.
No final do texto vocês conferem a minha primeira matéria de investigação. Também a primeira matéria que tive que segurar até ter todas as respostas. A lição que fica é: O importante de uma boa matéria é ela estar completa. Muitos amadores aqui na minha região usam seus blogs como fonte de renda e eu acho isso justo, porém, acabam oferecendo um serviço jornalistico de péssima qualidade e sem nenhum compromisso com os princípios básicos da informação.
Muitos deles tentam se esforçar, falam em profissionalismo e acabam deixando a desejar em muitos quesitos, em buscar de "dar o furo". Geram transtornos, desencontram informação, ouvem a primeira fonte sem apurar os fatos e tudo acaba virando bagunça. Não agravado a todos e, principalmente, sem deixar de citar os grandes sites da Bahia, que vez ou outra cometem os mesmo erros amadores que relatei acima.
Fazer um trabalho sério é complicado no meio disso tudo. E é como eu sempre digo: "Eu sabia que seria difícil".
A sensação de fechar uma matéria como essa e publicar é inexplicável. Não está numa capa de um importante jornal, em um site de grande porte da Bahia - desses que tem milhões de acessos por dia - , mas é um trabalho meu, que está ajudando a fomentar qualitativamente o MEU espaço.
E isso vale. Vale muito.
E essa era a minha maior inquietação: Eu precisava ter muito cuidado com as informações - responsabilidades exigidas na profissão que quero seguir - e procurar as fontes certas, pois a matéria poderia causar um pânico nos moradores das cidades vizinhas à barragem.
Depois de conversar com uma Técnica em Segurança do Trabalho, responsável pela Mineradora que funciona legalmente na entrada da cidade, fui pra casa. Transferir as fotos da máquina pro computador e comecei a escrever a matéria.
Após alguns minutos, ela estava quase pronta. Tinha o relato, as distâncias obtidas com a ajuda do Google Earth e a declaração da representante de uma mineradora que funciona legalmente, para explicar aos leitores quais os procedimentos de praxe em uma atividade como essa. Ainda faltava mais.
Claro, e os responsáveis pela barragem? Não teriam eles que saber do fato? E se já soubessem? Detonações tão próximas não seriam ouvidas por membros da empresa? Da Cerb? Do Inema? Da Votorantim?
Ora, se eu, responsável por escrever aquela história, questionava tais pontos, imagine os meus leitores?
Comecei então a pesquisar telefones: da Cerb, do Inema e da Votorantim. Lembrei, em seguida, que tinha um amigo que trabalhava na Votorantim. Nada melhor do que um contato como esse para me guiar até as pessoas certas, não é verdade?
Falei com essa fonte na manhã do dia seguinte. Relatei os fatos e, claro, ela demonstrou grande preocupação. Me passou números, nomes e direcionamentos. Perfeito.
Ligações e mensagens. Trocas de email. Situação encaminhada e aguardo de respostas. A primeira pessoa que me deu um retorno foi uma engenheira, da coordenação de segurança de barragens, representando a Cerb. Para quem não sabe, Cerb é a sigla para Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia. Esse órgão pertence ao Governo do Estado e é um dos responsáveis, junto com a Votorantim, pela Barragem Pedra do Cavalo.
A Cerb demonstrou total preocupação com o assunto. Na mesma semana, encaminhou uma equipe e visitou o local, tirou as coordenadas geográficas, fotos e alertou a Votorantim sobre o problema.
O que eu queria era simples: Uma palavra, um atestado, algo oficial da empresa que pudesse ser encaixado na matéria em questão que pudesse acalentar o impacto da notícia. "É perigoso para a barragem? Não é perigoso?". Questões simples e objetivas que deveriam ser respondidas antes da matéria ir pro ar.
Não sou um lunático. Sei que as pessoas, mesmo com todos os documentos, assinados pelos melhores engenheiros e técnicos do mundo, iriam cogitar a possibilidade de uma tragedia. Questionar os perigos. Insinuar eventos catastróficos. Afinal, eu, como emissor de uma notícia, não posso me responsabilizar totalmente pela maneira como o receptor irá interpretá-la. Porém, tenho que ser o mais claro, objetivo e responsável possível.
Após a engenheira que mantinha contato conosco finalizar o relatório para a diretoria da Cerb, e a Cerb encaminhar um relatório para o Inema - que, por sinal, até hoje não respondeu aos nossos emails - a resposta veio.
Foi mais ou menos assim: "Provavelmente, devido a distância e desnível, as explosões não atingem a barragem. Porém, só especialistas em detonações poderiam, com segurança, afirmar isso."
Eu sei, vocês vão se perguntar: Agora você foi procurar um especialista em detonação?
A resposta é: Não!
Fechei a matéria e publiquei no dia 03 de novembro. Claro, após um mês e com explosões ainda acontecendo, é obvio que a publicação deveria sair. Eu já tinha certeza que se tratava de uma mineradora clandestina, já tinha o posicionamento de um dos responsáveis pela barragem e tinha imagens e texto.
Cabe agora as autoridades competentes tomarem as devidas providências. O fato já é público, os órgãos fiscalizadores já tem conhecimento - soube que o INEMA já esteve no local - e ponto final.
Poderia ter publicando antes, mas minha consciência não deixou. Analisar friamente os fatos e respirar fundo, nessa ordem mesmo, me ajudou nesse processo de ser meu repórter e meu editor chefe ao mesmo tempo.
No final do texto vocês conferem a minha primeira matéria de investigação. Também a primeira matéria que tive que segurar até ter todas as respostas. A lição que fica é: O importante de uma boa matéria é ela estar completa. Muitos amadores aqui na minha região usam seus blogs como fonte de renda e eu acho isso justo, porém, acabam oferecendo um serviço jornalistico de péssima qualidade e sem nenhum compromisso com os princípios básicos da informação.
Muitos deles tentam se esforçar, falam em profissionalismo e acabam deixando a desejar em muitos quesitos, em buscar de "dar o furo". Geram transtornos, desencontram informação, ouvem a primeira fonte sem apurar os fatos e tudo acaba virando bagunça. Não agravado a todos e, principalmente, sem deixar de citar os grandes sites da Bahia, que vez ou outra cometem os mesmo erros amadores que relatei acima.
Fazer um trabalho sério é complicado no meio disso tudo. E é como eu sempre digo: "Eu sabia que seria difícil".
A sensação de fechar uma matéria como essa e publicar é inexplicável. Não está numa capa de um importante jornal, em um site de grande porte da Bahia - desses que tem milhões de acessos por dia - , mas é um trabalho meu, que está ajudando a fomentar qualitativamente o MEU espaço.
E isso vale. Vale muito.
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