terça-feira, 4 de novembro de 2014

O lado bom das coisas ruins: O Reino Invisível das Prefeituras

Comecei a trabalhar em prefeitura antes de entrar na faculdade, em 2009. De lá pra cá, venho observando muita coisa. Ultimamente, tenho conhecido outras prefeituras. E acho que a análise pode ser feita de uma maneira bem humorada. 

Acredito que há um Reino Invisível em prefeituras: Os perus, os politiqueiros que vivem em uma eterna campanha política, os que tudo sabem e nada fazem, os que se acham o prefeito, os forasteiros... 

Vocês acham que um periodista de interior não repara nessas coisas? 

Bem, conheça O Reino do Setor Público Municipal - Sob perspectiva de um Periodista.   



Os 'perus' que sobrevivem ao Natal. Tem todos os número de celular do prefeito, endereço da casa de praia, fazenda e sítio. Almoçam com o prefeito uma vez na semana, no mínimo. Ele fala todos os dias com o prefeito, por telefone ou WhatsApp. Não lê ou assiste jornal, não entende o que é a tonga da mironga do cabuleté, mas dá opinião sobre todos os setores da prefeitura: Finanças, obras, cultura, saúde e educação. Sabe quem  fala mal do prefeito na esquina, na praça, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê. Geralmente esse não depende exclusivamente da prefeitura, mas gosta de estar ao lado de "quem manda" na cidade. Sobrevivem ao natal e ficam o ano inteiro enchendo o saco. 




Os que adoram mandar ou fingem que mandam. Esses são complexados. Cresceram sendo mandado pelos pais ou irmão mais velho. Casaram e são mandados por esposa ou marido. De repente, seu amigo ganha a política e lhe convida para assumir o cargo de limpador da bosta do cavalo do bandido que entrou na cidade e foi preso. Já é motivo suficiente para acreditar que ele pode mandar fazer chover. É comum quando estão na frente do prefeito ficarem calados e de cabeça baixa. Corroendo de raiva e ruindo por dentro. "PQP, esse cara manda mais do que eu.", pensam. 





Os que só observam, levam o que sabem, contam o que sabem, observam a reação, e trazem de volta. Esses vivem os quatro anos de gestão nessa roda viva e gigante. Essa especie pode ser encontrada em todos os departamentos, secretarias e diretorias. São perigosos e a letalidade de suas palavras pode matar. Não há antidoto eficaz. Especialistas aconselham: Se você se deparar com um desses, apenas ouça e balance a cabeça. Não é garantia de nada, pois eles criam palavras e procriam histórias.





Os que nada fazem porque nada sabem. Entenderam? Dizem que cabeça vazia é a oficina do diabo. E esses que nada fazem porque nada sabem, meus amigos... Colam em alguém que sabe alguma coisa e pronto, vão sobrevivendo no Reino. Nos eventos políticos e institucionais, são usados para bater palmas e puxar coro de "viva ao prefeito". 





Os politiqueiros profissionais. Pra esses a campanha política nunca acaba. Estão sempre apontado quem votou no adversário e achando que aquele deve ser expulso da cidade, do país e do universo. Esses sempre arrumam um cargo próximo de um secretário ou perto do prefeito.  Quase sempre dizem que resolve tudo e conhecem todo mundo (jornalistas, outros prefeitos, autoridades de estado). Se pudessem, rodavam com carros de som a música de campanha do seu prefeito de manhã, de tarde e de noite, os quatro anos de mandato. Apesar da politicagem do dia a dia, são cordiais e amigáveis. Porém, alguns evoluem para a...


Ala Xiita da política. Treinados por descendentes de Osama Bin Laden, pós graduados no Hamas e com doutorado em fundamentalismo radical inquisitivo de resistência e destruição. É contra ao prefeito? Fogueira neles. O lema desses é: "Aos amigos tudo. Aos inimigos nada." Esses negam tudo a oposição. Quando são secretários de saúde, negam ambulância a um enfermo que foi oposição. Se forem professor e pudessem, separaria a merenda escolar em os da OPOSIÇÃO e os DO NOSSO QUERIDO E AMADO PREFEITO. Não aceitam novos membros no grupo. Acreditam que política se faz sozinho e que, graças a ele, o prefeito foi eleito.  

Os acampados. São aqueles que participaram de uma caminhada, um comício, uma carreata. Esses (acreditam que) tem direito a tudo. Acham que os prefeitos devem fazer tudo de legal (ou ilegal) para atender as suas vontades. Geralmente trabalham 3 meses de campanha para garantir 4 anos de emprego. Querem apenas um cargo, qualquer um. Se não tiver, exige que o prefeito crie esse cargo. Quando não acham um trabalho, pegam suas barracas e se aliam a oposição. 


Os Forasteiros. Tem também aquela turma que vem de fora (da cidade). Logo nomeados 'forasteiros' pelo próprio grupo político do prefeito eleito. Geralmente são técnicos, especialistas e consultores. Chegam na cidade em carros com ar condicionado, entram em suas salas com ar condicionado e vão embora em seus carros com ar condicionado. Não participam de eventos políticos ou institucionais. Alguns são indicações de compromissos políticos ou, realmente, bons no que fazem. "São forasteiros e não prestam. Tem que morrer.", gritam a ala xiita. 

O Puxa Saco. Ahhhh, que não conhece um puxa saco dentro de uma prefeitura? Falam mal de todo mundo. Quando estão perto do prefeito, querem sempre falar mal de alguém da oposição. Do ex prefeito. De um vereador. De um inimigo do prefeito. Dizem que eles tem um alto grau de energização em prefeitos. Pois os alcaides adoram a presença constante dessa espécie por perto. Prefeitos aposentados dizem que puxa saco hidrata, revigora e revitaliza. 

O amigo do Facebook. É aquele cidadão que trabalha na prefeitura e sempre compartilha tudo referente aos trabalhos da prefeitura na timeline dele e... na sua timeline! Uma dica pra se livrar dessa galera. 

O Inconformado. Não sabe fazer nada. Não aparece um dia no setor de trabalho. E acha que ganha pouco pela campanha que fez para eleger o prefeito. Esses só mudam da categoria Inconformado para Os que nada fazem porque nada sabem se passarem a ganhar o salário de um vereador. 

O Informante. Sabe de tudo o que acontece dentro da prefeitura e fora dela. Leva tudo pro prefeito quando pode. Frequenta todas as sessões da Câmara, participa de todos os eventos institucionais, ouve todos os programas de rádio e é o primeiro a ligar pra avisar ao prefeito quando uma denúncia aparece. Geralmente não estão em folha de pagamento. Devem ter, no minimo, um carro locado ou uma amante funcionária. 

O Pai de Família. Esses aparecem durante a campanha. Ficam nas trincheiras. Atiram e recebem balas na guerra política. Quando o prefeito ganha tem a "obrigação moral", segundo eles, de empregar suas filhas, sobrinhas, primas, mulher, netos e, se tiver viva, sua tataravó. 


O Todo Poderoso. Alguém que o prefeito escolhe, inconscientemente ou propositalmente, pra mandar depois dele. Mandar mesmo. Esse Todo Poderoso faz chover, abre caminhos e ainda faz chá e cafezinho pro prefeito. Quando não sabem fazer café, aprendem. Geralmente você conhece um Todo Poderoso pela quantidade de vezes que secretários, chefes de departamentos e vereadores ligados ao prefeito falam mal dele.  

Bem, ainda há por aqui o lado bom das coisas ruins. Conviver nessa imensa variedade  de personalidades é uma experiência espetacular. 

Em um Reino Invisível de Prefeitura ainda tem os que estão lá por competência, por gestão e por eficiência. São profissionais capacitados que ajudam o município a ganhar asas.  

Não existe gestor perfeito por excelência. Existe um bom líder e uma boa equipe. 

Infelizmente, ainda tem prefeitos que deixam essa pequena parte do Reino Invisível tomar conta da situação. O resultado, nós já sabemos. 

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