segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A morte da manhã de domingo nos revela o quanto somos patéticos

Foto: Edgard Abbehusen
Acordei. Como de costume, domingo é o dia da cama. Geralmente, sábado durmo tarde - mais tarde do que o normal - e, sem compromissos, procuro e tento me entregar ao sono. Acordo às 7h, como todos os dias, e volto pra cama. Durmo de novo. Vou acordando e dormindo. Um vai e vem entre sonhos e pensamentos.

Nesse domingo, 16 de novembro, foi exatamente assim. Na programação, estaria uma praia, caminhada, tomar uma água de coco. O tempo, fechado, não permitiu que assim fosse. Voltei pra cama. Peguei o celular para ver mensagens, atualizações de redes sociais e conversas paralelas em grupos de Whatsapp.

Então, aquele domingo começou a ter cheiro de morte.

Chegava ao meu conhecimento a morte de Paulo José de Jesus Almeida Alves, aos 49 anos. Ex vereador (2001-2004), radialista, presidente da Filarmônica 5 de Março e um altruísta nas causas sociais, culturais e políticas de Muritiba.

Minha última conversa com Paulo José foi na tarde da última sexta-feira, 14, e bem rápida. Ele, saía do Banco. Eu estava chegando. No breve papo, sua felicidade em relatar os andamentos dos trabalhos na nova sede da Filarmônica Cinco de Março. Me solicitou uma matéria no Primogênio Notícias, falando sobre os trabalhos desenvolvidos por lá. Marcamos pra a próxima quarta-feira, 19.

Outros amigos relatam que viram Paulo José na noite da mesma sexta-feira. Alguns, comentaram que encontraram ele no feriado de sábado. Ouvi também uma pessoa dizendo que, ainda no domingo de manhã, na hora de passar para o futebol de amigos, cumprimentou Paulo José na porta de sua casa. A morte faz isso com a gente. Ficamos pensando e até nos esforçando para lembrar de cada detalhe que nos remeta a lembrança da última vista ou conversa com quem fez sua passagem. Pensamos que poderíamos ter dito o quanto aquela pessoa era importante e, se o tempo voltasse, ficaríamos até um pouco mais naquela conversa. Teríamos parado para uma despedida ou convidado aquela pessoa para um café.

Mas, a morte, não nos permite essa chance.

Ela  não manda recado, poema ou telegrama. Ela simplesmente aparece na manhã de domingo ou qualquer outro dia da semana, sem hora marcada e não nos pergunta se queremos ir antes ou depois do almoço. Não nos permite tomar a decisão de adiar e suspender o 'morrer' ou prorrogar a vida. A previsibilidade não funciona com a morte. E, mesmo sabendo de tudo isso, conscientemente, todos os dias, recebendo as maiores lições, ainda 'vivemos como se nunca fossemos morrer, para morrer como se nunca tivéssemos vivido.'

E ela não quis saber da entrevista marcada para a próxima quarta-feira. Não perguntou se não seria melhor levá-lo após a conclusão das obras da sede da filarmônica Cinco de Março. Não se preocupou em permitir que os alunos de Paulo José, no Colégio Polivalente, se despedissem dele em sua próxima aula, que seria nessa segunda-feira, 17.

Simplesmente o levou.

Toda essa história, me remete a um fato que aconteceu em 2010, quando um grupo se reuniu para tentar ajudar na reconstrução da sede da Filarmônica Cinco de Março. Eram reuniões, emails, discursos, palavras e egos sobressaltados. Todo mundo tinha a solução e, alguns, começaram a sugerir que a Cinco de Março sofria por falta de gestão financeira e administrativa.  Era a fase de "se der certo, o pai da criança sou eu.".

O pobre Paulo seria vítima das suposições e insinuações da dita classe 'intelectual' e revoltada de Muritiba.

Aquela turma que tem muita teoria, muita conversa bonita, muitas ideias, tem a solução para todos os problemas da cidade mas sempre foge da raia na hora do 'vamos ver'. Essa turma que se esconde, tem um sério problema: Julgar quem dar a cara pra bater.

Reles mortais. Não sabem eles que são co-responsáveis pela cidade do presente que eles julgam como irrelevante e inexpressiva. Aos poucos, a febre pela reconstrução da sede da Cinco de Março foi passando. E Paulo José, sozinho, correu atrás do seu sonho altruísta e levantou a sede para toda a comunidade. Com a promoção de rifas, festivais de tortas, bingos, Paulo bateu a lage, comprou o piso, pintou e abriu as portas da nova sede, ainda em fase de construção.

Agora, lendo alguns elogios ao Paulo, principalmente os de quem dizia que ele 'não sabia administrar' e ainda listava os motivos para essa opinião 'formada', usando o termo "caráter", "dignidade", "homem sério" para defini-lo após sua morte, me pergunto se são palavras que se enquadram na chamada licença poética, ou apenas uma maneira de se redimir do pouco caso que tanto tivemos com Paulo José.

Não seria Paulo José bem aproveitado como um secretário municipal?
Não seria Paulo José  um excelente defensor das causas culturais da cidade em um cargo municipal que lhe permitisse tomar decisões?

Ninguém pensou nisso. Todos preferiam ver Paulo José caminhando do Colégio Polivalente para a sua casa. Indo e vindo. Sempre, em qualquer gestão municipal ou reuniões de associações, Paulo era ativamente participativo. Escolhiam ele para redigir a ata de assembleias, sessões solenes, audiências públicas.

Paulo se dedicou a Cinco de Março. Preferiu, indiretamente, interferir no futuro de Muritiba. E assim ele fez. Debruçou-se sobre as causas da filarmônica que dirigia, construiu sua imagem de formador de opinião preciso e coerente no cenário político e morreu deixando um legado.

Abaixo, uma das muitas conversas que tenho arquivadas no messenger do Facebook. Essa foi em maio de 2014. Nela, falamos sobre a visita da fotografa Valéria Simões a sede da Cinco de Março, onde ele revela seu sonho: "Se Deus quiser (a sede da Cinco de Março) vai ser o centro cultural da nossa cidade".

Conversa com Paulo José em 10 de maio de 2014.


Tínhamos Paulo José vivo  até domingo pela manhã e preferimos ser patéticos e injustos na sua presença. A morte dele nos revelou isso. As palavras descritivas em perfis nas redes sociais traduzem o quanto poderíamos usufruir de Paulo José e, assim como tudo nessa terra, vaidades pessoais e intransigência intelectual impediram.

A ficha caiu.

Agora, temos o seu legado. A sede da Cinco de Março, os alunos, os instrumentos e a fórmula pronta para se construir uma sociedade mais justa e cultural. Está tudo ali, na Praça do Bonfim. Que não sejamos mais uma vez hipócritas e patéticos, principalmente aquele clube intelectual da cidade, em transferir a responsabilidade - somente - para os poderes públicos.

Que tenhamos tempo de sobreviver ao caos sendo um pouco menos patético. Que tenhamos sabedoria para aproveitar Muritiba e os seus filhos. Amanhã, depois do café ou antes do almoço, podemos ir embora sem ter deixado legado algum. Apenas palavras de como poderia ser feito.

Paulo José de Jesus Almeida Alves foi-se antes do almoço, antes do 50 anos. Deixou muito mais do que palavras. Deixou o resultado de sua ação. Deixou muito mais do que um legado: Nos deixa uma lição e a pergunta:

O que estamos REALMENTE fazendo por nossa cidade?

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Inquietações Jornalísticas: Segurar uma matéria para não gerar pânico

Bem, essa semana concluí uma matéria que comecei a escrever no dia 29 de setembro. Pouco mais de 30 dias com uma informação. Todo dia abria o rascunho na administração do site. Olhava, mudava uma imagem. Revisava palavras. Lia e relia tudo de novo. 

O caso se trata de uma mineradora clandestina que funciona próximo a barragem Pedra do Cavalo, uma das principais da Bahia que, além de fornecer água pra Salvador, gera energia. É muita água represada, que fica a poucos metros das cidades de Cachoeira e São Félix. Detonar pedras, sabe-se lá com quais critérios de segurança e estudo, tão próximo a essa barragem, não é uma boa ideia.

Tudo começou com uma publicação no meu perfil do Facebook. Ouvi uma barulho, por volta das 23 horas, e questionei na página do Facebook se aquele som seco e forte era oriundo de uma explosão.  Pensei em algum caixa eletrônico em uma das três agências bancárias da cidade. Essa hipótese foi descartada logo, após alguns contatos com policiais.  

Na mesma postagem, moradores das cidades de São Félix, Cachoeira e Governador Mangabeira se manifestaram afirmando terem ouvido o barulho. Nenhum banco dessas cidades também sofreram atentados do tipo. Fui dormir e, quando acordei no dia seguinte, uma denúncia: "A explosão é na mineradora clandestina na BR 101, após entrada de Muritiba. Verifique. É próximo a barragem.", dizia a mensagem. 

Após receber a denuncia, fui lá ver com meus próprios olhos. E com uma máquina na mão, entrei no local, com medo. Muito medo. Confesso que na hora não senti absolutamente nenhum calafrio irradiando para a espinha dorsal. Só queria conferir com os meus próprios olhos que, aquela informação vinda de uma fonte, era verídica. E foi. Apontei a máquina e tirei as fotos. 

Saindo do local, já na BR 101, repensei o perigo que corri entrando sozinho naquele local de mata fechada. O prazer veio junto com o medo. Consegui as imagens. Agora era atestar que aquela situação se tratava, realmente, de uma atividade de mineração. 

Porém, só quem poderia me dar essa informação era algum técnico da área. Quando entrei em Muritiba, vi a pedreira. Essa, dentro das leis que regem a atividade. Entrei e procurei alguém para analisar as imagens. "Provavelmente é uma atividade de mineração.", disseram. 

Pronto. Já tinha as imagens.Tinha também a confirmação dos fatos. Agora era relatar. 

Não é bem assim. Como dizer para os moradores de São Félix e Cachoeira que existe uma mineradora clandestina detonando bomba, explosivo ou qualquer outra coisa ilegal, a menos de 2km da barragem? 

E essa era a minha maior inquietação: Eu precisava ter muito cuidado com as informações - responsabilidades exigidas na profissão que quero seguir - e procurar as fontes certas, pois a matéria poderia causar um pânico nos moradores das cidades vizinhas à barragem. 

Depois de conversar com uma Técnica em Segurança do Trabalho, responsável pela Mineradora que funciona legalmente na entrada da cidade, fui pra casa. Transferir as fotos da máquina pro computador e comecei a escrever a matéria. 

Após alguns minutos, ela estava quase pronta. Tinha o relato, as distâncias obtidas com a ajuda do Google Earth e a declaração da representante de uma mineradora que funciona legalmente, para explicar aos leitores quais os procedimentos de praxe em uma atividade como essa. Ainda faltava mais. 

Claro, e os responsáveis pela barragem? Não teriam eles que saber do fato? E se já soubessem? Detonações tão próximas não seriam ouvidas por membros da empresa? Da Cerb? Do Inema? Da Votorantim? 

Ora, se eu, responsável por escrever aquela história, questionava tais pontos, imagine os meus leitores? 

Comecei então a pesquisar telefones: da Cerb, do Inema e da Votorantim. Lembrei, em seguida, que tinha um amigo que trabalhava na Votorantim. Nada melhor do que um contato como esse para me guiar até as pessoas certas, não é verdade? 

Falei com essa fonte na manhã do dia seguinte. Relatei os fatos e, claro, ela demonstrou grande preocupação. Me passou números, nomes e direcionamentos. Perfeito. 

Ligações e mensagens. Trocas de email. Situação encaminhada e aguardo de respostas. A primeira pessoa que me deu um retorno foi uma engenheira, da coordenação de segurança de barragens, representando a Cerb. Para quem não sabe, Cerb é a sigla para Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia. Esse órgão pertence ao Governo do Estado e é um dos responsáveis, junto com a Votorantim, pela Barragem Pedra do Cavalo. 

A Cerb demonstrou total preocupação com o assunto. Na mesma semana, encaminhou uma equipe e visitou o local, tirou as coordenadas geográficas, fotos e alertou a Votorantim sobre o problema.

O que eu queria era simples: Uma palavra, um atestado, algo oficial da empresa que pudesse ser encaixado na matéria em questão que pudesse acalentar o impacto da notícia. "É perigoso para a barragem? Não é perigoso?". Questões simples e objetivas que deveriam ser respondidas antes da matéria ir pro ar. 

Não sou um lunático. Sei que as pessoas, mesmo com todos os documentos, assinados pelos melhores engenheiros e técnicos do mundo, iriam cogitar a possibilidade de uma tragedia. Questionar os perigos. Insinuar eventos catastróficos. Afinal, eu, como emissor de uma notícia, não posso me responsabilizar totalmente pela maneira como o receptor irá interpretá-la. Porém, tenho que ser o mais claro, objetivo e responsável possível.  

Após a engenheira que mantinha contato conosco finalizar o relatório para a diretoria da Cerb, e a Cerb encaminhar um relatório para o Inema - que, por sinal, até hoje não respondeu aos nossos emails - a resposta veio. 

Foi mais ou menos assim: "Provavelmente, devido a distância e desnível, as explosões não atingem a barragem. Porém, só especialistas em detonações poderiam, com segurança, afirmar isso."

Eu sei, vocês vão se perguntar: Agora você foi procurar um especialista em detonação? 
A resposta é: Não!

Fechei a matéria e publiquei no dia 03 de novembro. Claro, após um mês e com explosões ainda acontecendo, é obvio que a publicação deveria sair. Eu já tinha certeza que se tratava de uma mineradora clandestina, já tinha o posicionamento de um dos responsáveis pela barragem e tinha imagens e texto.  

Cabe agora as autoridades competentes tomarem as devidas providências. O fato já é público, os órgãos fiscalizadores já tem conhecimento - soube que o INEMA já esteve no local - e ponto final.

Poderia ter publicando antes, mas minha consciência não deixou. Analisar friamente os fatos e respirar fundo, nessa ordem mesmo, me ajudou nesse processo de ser meu repórter e meu editor chefe ao mesmo tempo. 

No final do texto vocês conferem a minha primeira matéria de investigação. Também a primeira matéria que tive que segurar até ter todas as respostas. A lição que fica é: O importante de uma boa matéria é ela estar completa. Muitos amadores aqui na minha região usam seus blogs como fonte de renda e eu acho isso justo, porém, acabam oferecendo um serviço jornalistico de péssima qualidade e sem nenhum compromisso com os princípios básicos da informação. 

Muitos deles tentam se esforçar, falam em profissionalismo e acabam deixando a desejar em muitos quesitos, em buscar de "dar o furo". Geram transtornos, desencontram informação, ouvem a primeira fonte sem apurar os fatos e tudo acaba virando bagunça. Não agravado a todos e, principalmente, sem deixar de citar os grandes sites da Bahia, que vez ou outra cometem os mesmo erros amadores que relatei acima. 

Fazer um trabalho sério é complicado no meio disso tudo. E é como eu sempre digo: "Eu sabia que seria difícil". 

A sensação de fechar uma matéria como essa e publicar é inexplicável. Não está numa capa de um importante jornal, em um site de grande porte da Bahia - desses que tem milhões de acessos por dia - , mas é um trabalho meu, que está ajudando a fomentar qualitativamente o MEU espaço. 

E isso vale. Vale muito. 


Clique abaixo para ler a matéria: 

Exclusivo: Mineradora clandestina está funcionando próximo a Barragem Pedra do Cavalo







terça-feira, 4 de novembro de 2014

O lado bom das coisas ruins: O Reino Invisível das Prefeituras

Comecei a trabalhar em prefeitura antes de entrar na faculdade, em 2009. De lá pra cá, venho observando muita coisa. Ultimamente, tenho conhecido outras prefeituras. E acho que a análise pode ser feita de uma maneira bem humorada. 

Acredito que há um Reino Invisível em prefeituras: Os perus, os politiqueiros que vivem em uma eterna campanha política, os que tudo sabem e nada fazem, os que se acham o prefeito, os forasteiros... 

Vocês acham que um periodista de interior não repara nessas coisas? 

Bem, conheça O Reino do Setor Público Municipal - Sob perspectiva de um Periodista.   



Os 'perus' que sobrevivem ao Natal. Tem todos os número de celular do prefeito, endereço da casa de praia, fazenda e sítio. Almoçam com o prefeito uma vez na semana, no mínimo. Ele fala todos os dias com o prefeito, por telefone ou WhatsApp. Não lê ou assiste jornal, não entende o que é a tonga da mironga do cabuleté, mas dá opinião sobre todos os setores da prefeitura: Finanças, obras, cultura, saúde e educação. Sabe quem  fala mal do prefeito na esquina, na praça, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê. Geralmente esse não depende exclusivamente da prefeitura, mas gosta de estar ao lado de "quem manda" na cidade. Sobrevivem ao natal e ficam o ano inteiro enchendo o saco. 




Os que adoram mandar ou fingem que mandam. Esses são complexados. Cresceram sendo mandado pelos pais ou irmão mais velho. Casaram e são mandados por esposa ou marido. De repente, seu amigo ganha a política e lhe convida para assumir o cargo de limpador da bosta do cavalo do bandido que entrou na cidade e foi preso. Já é motivo suficiente para acreditar que ele pode mandar fazer chover. É comum quando estão na frente do prefeito ficarem calados e de cabeça baixa. Corroendo de raiva e ruindo por dentro. "PQP, esse cara manda mais do que eu.", pensam. 





Os que só observam, levam o que sabem, contam o que sabem, observam a reação, e trazem de volta. Esses vivem os quatro anos de gestão nessa roda viva e gigante. Essa especie pode ser encontrada em todos os departamentos, secretarias e diretorias. São perigosos e a letalidade de suas palavras pode matar. Não há antidoto eficaz. Especialistas aconselham: Se você se deparar com um desses, apenas ouça e balance a cabeça. Não é garantia de nada, pois eles criam palavras e procriam histórias.





Os que nada fazem porque nada sabem. Entenderam? Dizem que cabeça vazia é a oficina do diabo. E esses que nada fazem porque nada sabem, meus amigos... Colam em alguém que sabe alguma coisa e pronto, vão sobrevivendo no Reino. Nos eventos políticos e institucionais, são usados para bater palmas e puxar coro de "viva ao prefeito". 





Os politiqueiros profissionais. Pra esses a campanha política nunca acaba. Estão sempre apontado quem votou no adversário e achando que aquele deve ser expulso da cidade, do país e do universo. Esses sempre arrumam um cargo próximo de um secretário ou perto do prefeito.  Quase sempre dizem que resolve tudo e conhecem todo mundo (jornalistas, outros prefeitos, autoridades de estado). Se pudessem, rodavam com carros de som a música de campanha do seu prefeito de manhã, de tarde e de noite, os quatro anos de mandato. Apesar da politicagem do dia a dia, são cordiais e amigáveis. Porém, alguns evoluem para a...


Ala Xiita da política. Treinados por descendentes de Osama Bin Laden, pós graduados no Hamas e com doutorado em fundamentalismo radical inquisitivo de resistência e destruição. É contra ao prefeito? Fogueira neles. O lema desses é: "Aos amigos tudo. Aos inimigos nada." Esses negam tudo a oposição. Quando são secretários de saúde, negam ambulância a um enfermo que foi oposição. Se forem professor e pudessem, separaria a merenda escolar em os da OPOSIÇÃO e os DO NOSSO QUERIDO E AMADO PREFEITO. Não aceitam novos membros no grupo. Acreditam que política se faz sozinho e que, graças a ele, o prefeito foi eleito.  

Os acampados. São aqueles que participaram de uma caminhada, um comício, uma carreata. Esses (acreditam que) tem direito a tudo. Acham que os prefeitos devem fazer tudo de legal (ou ilegal) para atender as suas vontades. Geralmente trabalham 3 meses de campanha para garantir 4 anos de emprego. Querem apenas um cargo, qualquer um. Se não tiver, exige que o prefeito crie esse cargo. Quando não acham um trabalho, pegam suas barracas e se aliam a oposição. 


Os Forasteiros. Tem também aquela turma que vem de fora (da cidade). Logo nomeados 'forasteiros' pelo próprio grupo político do prefeito eleito. Geralmente são técnicos, especialistas e consultores. Chegam na cidade em carros com ar condicionado, entram em suas salas com ar condicionado e vão embora em seus carros com ar condicionado. Não participam de eventos políticos ou institucionais. Alguns são indicações de compromissos políticos ou, realmente, bons no que fazem. "São forasteiros e não prestam. Tem que morrer.", gritam a ala xiita. 

O Puxa Saco. Ahhhh, que não conhece um puxa saco dentro de uma prefeitura? Falam mal de todo mundo. Quando estão perto do prefeito, querem sempre falar mal de alguém da oposição. Do ex prefeito. De um vereador. De um inimigo do prefeito. Dizem que eles tem um alto grau de energização em prefeitos. Pois os alcaides adoram a presença constante dessa espécie por perto. Prefeitos aposentados dizem que puxa saco hidrata, revigora e revitaliza. 

O amigo do Facebook. É aquele cidadão que trabalha na prefeitura e sempre compartilha tudo referente aos trabalhos da prefeitura na timeline dele e... na sua timeline! Uma dica pra se livrar dessa galera. 

O Inconformado. Não sabe fazer nada. Não aparece um dia no setor de trabalho. E acha que ganha pouco pela campanha que fez para eleger o prefeito. Esses só mudam da categoria Inconformado para Os que nada fazem porque nada sabem se passarem a ganhar o salário de um vereador. 

O Informante. Sabe de tudo o que acontece dentro da prefeitura e fora dela. Leva tudo pro prefeito quando pode. Frequenta todas as sessões da Câmara, participa de todos os eventos institucionais, ouve todos os programas de rádio e é o primeiro a ligar pra avisar ao prefeito quando uma denúncia aparece. Geralmente não estão em folha de pagamento. Devem ter, no minimo, um carro locado ou uma amante funcionária. 

O Pai de Família. Esses aparecem durante a campanha. Ficam nas trincheiras. Atiram e recebem balas na guerra política. Quando o prefeito ganha tem a "obrigação moral", segundo eles, de empregar suas filhas, sobrinhas, primas, mulher, netos e, se tiver viva, sua tataravó. 


O Todo Poderoso. Alguém que o prefeito escolhe, inconscientemente ou propositalmente, pra mandar depois dele. Mandar mesmo. Esse Todo Poderoso faz chover, abre caminhos e ainda faz chá e cafezinho pro prefeito. Quando não sabem fazer café, aprendem. Geralmente você conhece um Todo Poderoso pela quantidade de vezes que secretários, chefes de departamentos e vereadores ligados ao prefeito falam mal dele.  

Bem, ainda há por aqui o lado bom das coisas ruins. Conviver nessa imensa variedade  de personalidades é uma experiência espetacular. 

Em um Reino Invisível de Prefeitura ainda tem os que estão lá por competência, por gestão e por eficiência. São profissionais capacitados que ajudam o município a ganhar asas.  

Não existe gestor perfeito por excelência. Existe um bom líder e uma boa equipe. 

Infelizmente, ainda tem prefeitos que deixam essa pequena parte do Reino Invisível tomar conta da situação. O resultado, nós já sabemos. 

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