Periodista de Interior
Relatos de um aspirante a jornalista numa pequena cidade do Recôncavo Baiano.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
O país do imediatismo agora resolveu direcionar sua fúria imbecil pra juventude
Acho louvável que quem comete um crime, principalmente dos 14 anos em diante, deve, sim, ser julgado. Mas cada caso é um caso, um processo cauteloso que o Brasil não tem capacidade pra realizar. A burocracia, que viabiliza a corrupção e o jeitinho, não iria permitir. Reduzir a maioridade pra 16, apenas, é de uma irracionalidade e imbecilidade tamanha. A conjuntura social deve, sim, formar uma conjectura de personalidade. Só que o país não tem estrutura, não tem políticos nem sociedade de conduta ilibada. Seriamos uma fabrica mortífera de jovens encarcerados, monstros com dia, data e horário pra sair de uma jaula insalubre e desumana.
Amigos, pensem: Não estamos – nem somos – primeiro mundo.
A cadeia, que deveria socializar, demoniza. Aqui bandido manda matar de dentro de casas de detenção com proteção máxima. Bandido faz churrasco e bebe cerveja aos domingos, nos pátios das penitenciarias, zombando da sociedade que trabalha diariamente pelo pão de cada dia. Já dizem os profissionais do crime que só sobrevive a uma penitenciaria quem souber dos “paranauês”.
Antigamente, ouvia dizer que cadeia era graduação em bandidagem. Quando criei consciência social e politica descobri, infelizmente, que a graduação está nas diferenças sociais impostas por um sistema falido, uma sociedade egoísta que só olha para o próprio rabo e totalmente – olha aí a prova – imediatista. Nós somos professores da graduação. Quando um meliante é preso, ele se especializa. E a pós graduação é fria, sanguenta e intempestiva. E volta em forma de violência pra casa da gente. Temos um Estatuto da Criança e do Adolescente belíssimo. Mas, como tudo no Brasil, as pompas não se realizam nas circunstancias. É mais fácil prender o filho do preto e do pobre do que exigir educação e condições sociais de qualidade. Temos uma policia mal paga, desvalorizada pelo poder público e em sua maioria despreparada psicologicamente que mata e que tortura.
Temos comunidades que elegem bandidos como heróis, porque não confiam na polícia. Aqui, apologia ao crime faz sucesso. Ganha a massa. Aparece na mídia como espetáculo de gala.
A música popular de vinte anos atrás reverberava que nossos heróis morriam de overdose.
Hoje, nossos heróis estão matando e financiando o tráfico e o crime.
Em 2014, no Brasil, foram mais de 56 mil assassinatos. 153 mortes violentas por dia, na média geral. O Brasil matou mais no ano passado do que o Estado Islâmico e do que o Iraque a Síria e o Afeganistão, juntos. Dessa estatística, sem surpresa alguma, são filhos de negros e pobres das periferias das grandes cidades a sua maioria.
Outra questão que não deve ser esquecida é o apadrinhamento filho de uma puta desse país. Filho, sobrinho, primo da quarta geração, amigo do amigo de empresário, de político, de juiz, de policia, de artista ou de alguém que tenha a pouca merda de uma influencia que consegue se safar de crimes. Ou seja, teremos mais jovens de 16 anos, preto e pobre, nas jaulas, do que filhos de pais ricos, mau caráter que, mesmo com todas as oportunidades oferecidas, resolveram queimar índio e mendigo na praça pública, beber, dirigir e matar nas estradas.
Enquanto deveríamos estar discutindo como melhorar a qualidade das escolas públicas, enquanto deveríamos discutir maneiras de viabilizar a prática do nosso belíssimo ECA, trilhões são repartidos pelos partidos políticos em corrupção e, cada dia mais e mais crianças estão nascendo e sendo jogadas nos becos e vielas dessa pátria, por vezes, nem tão gentil. Alguns até podem alegar que meu discurso é invariavelmente eficaz nos contos de fada. Isso porque, até o momento – e espero que assim continue – ainda não fui vitima direta ou indiretamente de nenhum tipo de violência cometida por um menor. Porém, não seria eu, mesmo que juiz fosse, emocionalmente envolvido com o caso, com a sede do “olho-por-olho / dente-por-dente” que iria julgá-lo.
O que venho percebendo é que o brasileiro tem andando no caminho inverso da democracia conquistada. Pede-se impeachment de presidente eleita pelo povo. Quer que Dilma saia no grito, escorraçada, como se isso fosse resolver um problema que está no sangue, consciência e cara de pau pintada da grande maioria que foi pra rua nos últimos dias – a outra metade sequer sabia o que estava fazendo ali.
No Brasil, onde é mais fácil fazer campanha pra boicotar novela do que mudar de canal ou simplesmente desligar a tv.
No Brasil, onde existe no congresso uma bancada conservadora enquanto milhões estão sendo desviados dos cofres públicos e todo mundo finge que não vê, pois é mais fácil mudar o foco do problema. "Vamos colocar Marcos Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos enquanto roubamos a Petrobras e colocamos Rennan Calheiros na presidência do Senado.”, devem debochar, eles, nos corredores ardilosos de Brasília.
No Brasil, onde agora o extermínio de jovens negros e pobres terá a chance de ser legitimado pelo Estado, afinal, com monstros enjaulados, nas piores condições possíveis, com data e hora marcada pra sair, fica mais fácil manter a grande parcela da sociedade amedrontada, adestrada e presa em seus condomínios com tudo dentro.
Reduzir a maioridade penal é uma decisão que nos mostra o quanto ainda somos imaturos quando o assunto é Direitos Humanos. É atirar pela janela a oportunidade que temos de socializar e educar a nossa juventude. É tudo o que os bandidos que estão em Brasília querem: Uma nação rica, que economiza com professor e escola pra pagar miséria a polícia e carcereiro e, consequentemente, uma nação sem futuro, pra eles continuarem metendo a mão no nosso bolso. É nojento. É uma afronta a quem acredita em um país melhor.
Sendo até um pouco fatalista, esse é um dos maiores e mais cruéis atentados contra o futuro dos nossos filhos e netos. Porque o problema não está no jovem frio e psicopata de 16 anos que cometeu um crime - problema mental é patologia e precisa ser tratado em qualquer idade - mas, sim, nas crianças e jovens que não terão oportunidade porque o sistema assim deseja.
E que já estarão condenadas, desde a fila (do SUS) da maternidade, a correr pro bicho pegar.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
A morte da manhã de domingo nos revela o quanto somos patéticos
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Foto: Edgard Abbehusen |
Nesse domingo, 16 de novembro, foi exatamente assim. Na programação, estaria uma praia, caminhada, tomar uma água de coco. O tempo, fechado, não permitiu que assim fosse. Voltei pra cama. Peguei o celular para ver mensagens, atualizações de redes sociais e conversas paralelas em grupos de Whatsapp.
Então, aquele domingo começou a ter cheiro de morte.
Chegava ao meu conhecimento a morte de Paulo José de Jesus Almeida Alves, aos 49 anos. Ex vereador (2001-2004), radialista, presidente da Filarmônica 5 de Março e um altruísta nas causas sociais, culturais e políticas de Muritiba.
Minha última conversa com Paulo José foi na tarde da última sexta-feira, 14, e bem rápida. Ele, saía do Banco. Eu estava chegando. No breve papo, sua felicidade em relatar os andamentos dos trabalhos na nova sede da Filarmônica Cinco de Março. Me solicitou uma matéria no Primogênio Notícias, falando sobre os trabalhos desenvolvidos por lá. Marcamos pra a próxima quarta-feira, 19.
Outros amigos relatam que viram Paulo José na noite da mesma sexta-feira. Alguns, comentaram que encontraram ele no feriado de sábado. Ouvi também uma pessoa dizendo que, ainda no domingo de manhã, na hora de passar para o futebol de amigos, cumprimentou Paulo José na porta de sua casa. A morte faz isso com a gente. Ficamos pensando e até nos esforçando para lembrar de cada detalhe que nos remeta a lembrança da última vista ou conversa com quem fez sua passagem. Pensamos que poderíamos ter dito o quanto aquela pessoa era importante e, se o tempo voltasse, ficaríamos até um pouco mais naquela conversa. Teríamos parado para uma despedida ou convidado aquela pessoa para um café.
Mas, a morte, não nos permite essa chance.
Ela não manda recado, poema ou telegrama. Ela simplesmente aparece na manhã de domingo ou qualquer outro dia da semana, sem hora marcada e não nos pergunta se queremos ir antes ou depois do almoço. Não nos permite tomar a decisão de adiar e suspender o 'morrer' ou prorrogar a vida. A previsibilidade não funciona com a morte. E, mesmo sabendo de tudo isso, conscientemente, todos os dias, recebendo as maiores lições, ainda 'vivemos como se nunca fossemos morrer, para morrer como se nunca tivéssemos vivido.'
E ela não quis saber da entrevista marcada para a próxima quarta-feira. Não perguntou se não seria melhor levá-lo após a conclusão das obras da sede da filarmônica Cinco de Março. Não se preocupou em permitir que os alunos de Paulo José, no Colégio Polivalente, se despedissem dele em sua próxima aula, que seria nessa segunda-feira, 17.
Simplesmente o levou.
Toda essa história, me remete a um fato que aconteceu em 2010, quando um grupo se reuniu para tentar ajudar na reconstrução da sede da Filarmônica Cinco de Março. Eram reuniões, emails, discursos, palavras e egos sobressaltados. Todo mundo tinha a solução e, alguns, começaram a sugerir que a Cinco de Março sofria por falta de gestão financeira e administrativa. Era a fase de "se der certo, o pai da criança sou eu.".
O pobre Paulo seria vítima das suposições e insinuações da dita classe 'intelectual' e revoltada de Muritiba.
Aquela turma que tem muita teoria, muita conversa bonita, muitas ideias, tem a solução para todos os problemas da cidade mas sempre foge da raia na hora do 'vamos ver'. Essa turma que se esconde, tem um sério problema: Julgar quem dar a cara pra bater.
Reles mortais. Não sabem eles que são co-responsáveis pela cidade do presente que eles julgam como irrelevante e inexpressiva. Aos poucos, a febre pela reconstrução da sede da Cinco de Março foi passando. E Paulo José, sozinho, correu atrás do seu sonho altruísta e levantou a sede para toda a comunidade. Com a promoção de rifas, festivais de tortas, bingos, Paulo bateu a lage, comprou o piso, pintou e abriu as portas da nova sede, ainda em fase de construção.
Agora, lendo alguns elogios ao Paulo, principalmente os de quem dizia que ele 'não sabia administrar' e ainda listava os motivos para essa opinião 'formada', usando o termo "caráter", "dignidade", "homem sério" para defini-lo após sua morte, me pergunto se são palavras que se enquadram na chamada licença poética, ou apenas uma maneira de se redimir do pouco caso que tanto tivemos com Paulo José.
Não seria Paulo José bem aproveitado como um secretário municipal?
Não seria Paulo José um excelente defensor das causas culturais da cidade em um cargo municipal que lhe permitisse tomar decisões?
Ninguém pensou nisso. Todos preferiam ver Paulo José caminhando do Colégio Polivalente para a sua casa. Indo e vindo. Sempre, em qualquer gestão municipal ou reuniões de associações, Paulo era ativamente participativo. Escolhiam ele para redigir a ata de assembleias, sessões solenes, audiências públicas.
Paulo se dedicou a Cinco de Março. Preferiu, indiretamente, interferir no futuro de Muritiba. E assim ele fez. Debruçou-se sobre as causas da filarmônica que dirigia, construiu sua imagem de formador de opinião preciso e coerente no cenário político e morreu deixando um legado.
Abaixo, uma das muitas conversas que tenho arquivadas no messenger do Facebook. Essa foi em maio de 2014. Nela, falamos sobre a visita da fotografa Valéria Simões a sede da Cinco de Março, onde ele revela seu sonho: "Se Deus quiser (a sede da Cinco de Março) vai ser o centro cultural da nossa cidade".
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Conversa com Paulo José em 10 de maio de 2014. |
Tínhamos Paulo José vivo até domingo pela manhã e preferimos ser patéticos e injustos na sua presença. A morte dele nos revelou isso. As palavras descritivas em perfis nas redes sociais traduzem o quanto poderíamos usufruir de Paulo José e, assim como tudo nessa terra, vaidades pessoais e intransigência intelectual impediram.
A ficha caiu.
Agora, temos o seu legado. A sede da Cinco de Março, os alunos, os instrumentos e a fórmula pronta para se construir uma sociedade mais justa e cultural. Está tudo ali, na Praça do Bonfim. Que não sejamos mais uma vez hipócritas e patéticos, principalmente aquele clube intelectual da cidade, em transferir a responsabilidade - somente - para os poderes públicos.
Que tenhamos tempo de sobreviver ao caos sendo um pouco menos patético. Que tenhamos sabedoria para aproveitar Muritiba e os seus filhos. Amanhã, depois do café ou antes do almoço, podemos ir embora sem ter deixado legado algum. Apenas palavras de como poderia ser feito.
Paulo José de Jesus Almeida Alves foi-se antes do almoço, antes do 50 anos. Deixou muito mais do que palavras. Deixou o resultado de sua ação. Deixou muito mais do que um legado: Nos deixa uma lição e a pergunta:
O que estamos REALMENTE fazendo por nossa cidade?
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sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Inquietações Jornalísticas: Segurar uma matéria para não gerar pânico
Bem, essa semana concluí uma matéria que comecei a escrever no dia 29 de setembro. Pouco mais de 30 dias com uma informação. Todo dia abria o rascunho na administração do site. Olhava, mudava uma imagem. Revisava palavras. Lia e relia tudo de novo.
O caso se trata de uma mineradora clandestina que funciona próximo a barragem Pedra do Cavalo, uma das principais da Bahia que, além de fornecer água pra Salvador, gera energia. É muita água represada, que fica a poucos metros das cidades de Cachoeira e São Félix. Detonar pedras, sabe-se lá com quais critérios de segurança e estudo, tão próximo a essa barragem, não é uma boa ideia.
Tudo começou com uma publicação no meu perfil do Facebook. Ouvi uma barulho, por volta das 23 horas, e questionei na página do Facebook se aquele som seco e forte era oriundo de uma explosão. Pensei em algum caixa eletrônico em uma das três agências bancárias da cidade. Essa hipótese foi descartada logo, após alguns contatos com policiais.
Na mesma postagem, moradores das cidades de São Félix, Cachoeira e Governador Mangabeira se manifestaram afirmando terem ouvido o barulho. Nenhum banco dessas cidades também sofreram atentados do tipo. Fui dormir e, quando acordei no dia seguinte, uma denúncia: "A explosão é na mineradora clandestina na BR 101, após entrada de Muritiba. Verifique. É próximo a barragem.", dizia a mensagem.
Após receber a denuncia, fui lá ver com meus próprios olhos. E com uma máquina na mão, entrei no local, com medo. Muito medo. Confesso que na hora não senti absolutamente nenhum calafrio irradiando para a espinha dorsal. Só queria conferir com os meus próprios olhos que, aquela informação vinda de uma fonte, era verídica. E foi. Apontei a máquina e tirei as fotos.
Saindo do local, já na BR 101, repensei o perigo que corri entrando sozinho naquele local de mata fechada. O prazer veio junto com o medo. Consegui as imagens. Agora era atestar que aquela situação se tratava, realmente, de uma atividade de mineração.
Porém, só quem poderia me dar essa informação era algum técnico da área. Quando entrei em Muritiba, vi a pedreira. Essa, dentro das leis que regem a atividade. Entrei e procurei alguém para analisar as imagens. "Provavelmente é uma atividade de mineração.", disseram.
Pronto. Já tinha as imagens.Tinha também a confirmação dos fatos. Agora era relatar.
O caso se trata de uma mineradora clandestina que funciona próximo a barragem Pedra do Cavalo, uma das principais da Bahia que, além de fornecer água pra Salvador, gera energia. É muita água represada, que fica a poucos metros das cidades de Cachoeira e São Félix. Detonar pedras, sabe-se lá com quais critérios de segurança e estudo, tão próximo a essa barragem, não é uma boa ideia.
Tudo começou com uma publicação no meu perfil do Facebook. Ouvi uma barulho, por volta das 23 horas, e questionei na página do Facebook se aquele som seco e forte era oriundo de uma explosão. Pensei em algum caixa eletrônico em uma das três agências bancárias da cidade. Essa hipótese foi descartada logo, após alguns contatos com policiais.
Na mesma postagem, moradores das cidades de São Félix, Cachoeira e Governador Mangabeira se manifestaram afirmando terem ouvido o barulho. Nenhum banco dessas cidades também sofreram atentados do tipo. Fui dormir e, quando acordei no dia seguinte, uma denúncia: "A explosão é na mineradora clandestina na BR 101, após entrada de Muritiba. Verifique. É próximo a barragem.", dizia a mensagem.
Após receber a denuncia, fui lá ver com meus próprios olhos. E com uma máquina na mão, entrei no local, com medo. Muito medo. Confesso que na hora não senti absolutamente nenhum calafrio irradiando para a espinha dorsal. Só queria conferir com os meus próprios olhos que, aquela informação vinda de uma fonte, era verídica. E foi. Apontei a máquina e tirei as fotos.
Saindo do local, já na BR 101, repensei o perigo que corri entrando sozinho naquele local de mata fechada. O prazer veio junto com o medo. Consegui as imagens. Agora era atestar que aquela situação se tratava, realmente, de uma atividade de mineração.
Porém, só quem poderia me dar essa informação era algum técnico da área. Quando entrei em Muritiba, vi a pedreira. Essa, dentro das leis que regem a atividade. Entrei e procurei alguém para analisar as imagens. "Provavelmente é uma atividade de mineração.", disseram.
Pronto. Já tinha as imagens.Tinha também a confirmação dos fatos. Agora era relatar.
Não é bem assim. Como dizer para os moradores de São Félix e Cachoeira que existe uma mineradora clandestina detonando bomba, explosivo ou qualquer outra coisa ilegal, a menos de 2km da barragem?
E essa era a minha maior inquietação: Eu precisava ter muito cuidado com as informações - responsabilidades exigidas na profissão que quero seguir - e procurar as fontes certas, pois a matéria poderia causar um pânico nos moradores das cidades vizinhas à barragem.
Depois de conversar com uma Técnica em Segurança do Trabalho, responsável pela Mineradora que funciona legalmente na entrada da cidade, fui pra casa. Transferir as fotos da máquina pro computador e comecei a escrever a matéria.
Após alguns minutos, ela estava quase pronta. Tinha o relato, as distâncias obtidas com a ajuda do Google Earth e a declaração da representante de uma mineradora que funciona legalmente, para explicar aos leitores quais os procedimentos de praxe em uma atividade como essa. Ainda faltava mais.
Claro, e os responsáveis pela barragem? Não teriam eles que saber do fato? E se já soubessem? Detonações tão próximas não seriam ouvidas por membros da empresa? Da Cerb? Do Inema? Da Votorantim?
Ora, se eu, responsável por escrever aquela história, questionava tais pontos, imagine os meus leitores?
Comecei então a pesquisar telefones: da Cerb, do Inema e da Votorantim. Lembrei, em seguida, que tinha um amigo que trabalhava na Votorantim. Nada melhor do que um contato como esse para me guiar até as pessoas certas, não é verdade?
Falei com essa fonte na manhã do dia seguinte. Relatei os fatos e, claro, ela demonstrou grande preocupação. Me passou números, nomes e direcionamentos. Perfeito.
Ligações e mensagens. Trocas de email. Situação encaminhada e aguardo de respostas. A primeira pessoa que me deu um retorno foi uma engenheira, da coordenação de segurança de barragens, representando a Cerb. Para quem não sabe, Cerb é a sigla para Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia. Esse órgão pertence ao Governo do Estado e é um dos responsáveis, junto com a Votorantim, pela Barragem Pedra do Cavalo.
A Cerb demonstrou total preocupação com o assunto. Na mesma semana, encaminhou uma equipe e visitou o local, tirou as coordenadas geográficas, fotos e alertou a Votorantim sobre o problema.
O que eu queria era simples: Uma palavra, um atestado, algo oficial da empresa que pudesse ser encaixado na matéria em questão que pudesse acalentar o impacto da notícia. "É perigoso para a barragem? Não é perigoso?". Questões simples e objetivas que deveriam ser respondidas antes da matéria ir pro ar.
Não sou um lunático. Sei que as pessoas, mesmo com todos os documentos, assinados pelos melhores engenheiros e técnicos do mundo, iriam cogitar a possibilidade de uma tragedia. Questionar os perigos. Insinuar eventos catastróficos. Afinal, eu, como emissor de uma notícia, não posso me responsabilizar totalmente pela maneira como o receptor irá interpretá-la. Porém, tenho que ser o mais claro, objetivo e responsável possível.
Após a engenheira que mantinha contato conosco finalizar o relatório para a diretoria da Cerb, e a Cerb encaminhar um relatório para o Inema - que, por sinal, até hoje não respondeu aos nossos emails - a resposta veio.
Foi mais ou menos assim: "Provavelmente, devido a distância e desnível, as explosões não atingem a barragem. Porém, só especialistas em detonações poderiam, com segurança, afirmar isso."
Eu sei, vocês vão se perguntar: Agora você foi procurar um especialista em detonação?
A resposta é: Não!
Fechei a matéria e publiquei no dia 03 de novembro. Claro, após um mês e com explosões ainda acontecendo, é obvio que a publicação deveria sair. Eu já tinha certeza que se tratava de uma mineradora clandestina, já tinha o posicionamento de um dos responsáveis pela barragem e tinha imagens e texto.
Cabe agora as autoridades competentes tomarem as devidas providências. O fato já é público, os órgãos fiscalizadores já tem conhecimento - soube que o INEMA já esteve no local - e ponto final.
Poderia ter publicando antes, mas minha consciência não deixou. Analisar friamente os fatos e respirar fundo, nessa ordem mesmo, me ajudou nesse processo de ser meu repórter e meu editor chefe ao mesmo tempo.
No final do texto vocês conferem a minha primeira matéria de investigação. Também a primeira matéria que tive que segurar até ter todas as respostas. A lição que fica é: O importante de uma boa matéria é ela estar completa. Muitos amadores aqui na minha região usam seus blogs como fonte de renda e eu acho isso justo, porém, acabam oferecendo um serviço jornalistico de péssima qualidade e sem nenhum compromisso com os princípios básicos da informação.
Muitos deles tentam se esforçar, falam em profissionalismo e acabam deixando a desejar em muitos quesitos, em buscar de "dar o furo". Geram transtornos, desencontram informação, ouvem a primeira fonte sem apurar os fatos e tudo acaba virando bagunça. Não agravado a todos e, principalmente, sem deixar de citar os grandes sites da Bahia, que vez ou outra cometem os mesmo erros amadores que relatei acima.
Fazer um trabalho sério é complicado no meio disso tudo. E é como eu sempre digo: "Eu sabia que seria difícil".
A sensação de fechar uma matéria como essa e publicar é inexplicável. Não está numa capa de um importante jornal, em um site de grande porte da Bahia - desses que tem milhões de acessos por dia - , mas é um trabalho meu, que está ajudando a fomentar qualitativamente o MEU espaço.
E isso vale. Vale muito.
E essa era a minha maior inquietação: Eu precisava ter muito cuidado com as informações - responsabilidades exigidas na profissão que quero seguir - e procurar as fontes certas, pois a matéria poderia causar um pânico nos moradores das cidades vizinhas à barragem.
Depois de conversar com uma Técnica em Segurança do Trabalho, responsável pela Mineradora que funciona legalmente na entrada da cidade, fui pra casa. Transferir as fotos da máquina pro computador e comecei a escrever a matéria.
Após alguns minutos, ela estava quase pronta. Tinha o relato, as distâncias obtidas com a ajuda do Google Earth e a declaração da representante de uma mineradora que funciona legalmente, para explicar aos leitores quais os procedimentos de praxe em uma atividade como essa. Ainda faltava mais.
Claro, e os responsáveis pela barragem? Não teriam eles que saber do fato? E se já soubessem? Detonações tão próximas não seriam ouvidas por membros da empresa? Da Cerb? Do Inema? Da Votorantim?
Ora, se eu, responsável por escrever aquela história, questionava tais pontos, imagine os meus leitores?
Comecei então a pesquisar telefones: da Cerb, do Inema e da Votorantim. Lembrei, em seguida, que tinha um amigo que trabalhava na Votorantim. Nada melhor do que um contato como esse para me guiar até as pessoas certas, não é verdade?
Falei com essa fonte na manhã do dia seguinte. Relatei os fatos e, claro, ela demonstrou grande preocupação. Me passou números, nomes e direcionamentos. Perfeito.
Ligações e mensagens. Trocas de email. Situação encaminhada e aguardo de respostas. A primeira pessoa que me deu um retorno foi uma engenheira, da coordenação de segurança de barragens, representando a Cerb. Para quem não sabe, Cerb é a sigla para Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia. Esse órgão pertence ao Governo do Estado e é um dos responsáveis, junto com a Votorantim, pela Barragem Pedra do Cavalo.
A Cerb demonstrou total preocupação com o assunto. Na mesma semana, encaminhou uma equipe e visitou o local, tirou as coordenadas geográficas, fotos e alertou a Votorantim sobre o problema.
O que eu queria era simples: Uma palavra, um atestado, algo oficial da empresa que pudesse ser encaixado na matéria em questão que pudesse acalentar o impacto da notícia. "É perigoso para a barragem? Não é perigoso?". Questões simples e objetivas que deveriam ser respondidas antes da matéria ir pro ar.
Não sou um lunático. Sei que as pessoas, mesmo com todos os documentos, assinados pelos melhores engenheiros e técnicos do mundo, iriam cogitar a possibilidade de uma tragedia. Questionar os perigos. Insinuar eventos catastróficos. Afinal, eu, como emissor de uma notícia, não posso me responsabilizar totalmente pela maneira como o receptor irá interpretá-la. Porém, tenho que ser o mais claro, objetivo e responsável possível.
Após a engenheira que mantinha contato conosco finalizar o relatório para a diretoria da Cerb, e a Cerb encaminhar um relatório para o Inema - que, por sinal, até hoje não respondeu aos nossos emails - a resposta veio.
Foi mais ou menos assim: "Provavelmente, devido a distância e desnível, as explosões não atingem a barragem. Porém, só especialistas em detonações poderiam, com segurança, afirmar isso."
Eu sei, vocês vão se perguntar: Agora você foi procurar um especialista em detonação?
A resposta é: Não!
Fechei a matéria e publiquei no dia 03 de novembro. Claro, após um mês e com explosões ainda acontecendo, é obvio que a publicação deveria sair. Eu já tinha certeza que se tratava de uma mineradora clandestina, já tinha o posicionamento de um dos responsáveis pela barragem e tinha imagens e texto.
Cabe agora as autoridades competentes tomarem as devidas providências. O fato já é público, os órgãos fiscalizadores já tem conhecimento - soube que o INEMA já esteve no local - e ponto final.
Poderia ter publicando antes, mas minha consciência não deixou. Analisar friamente os fatos e respirar fundo, nessa ordem mesmo, me ajudou nesse processo de ser meu repórter e meu editor chefe ao mesmo tempo.
No final do texto vocês conferem a minha primeira matéria de investigação. Também a primeira matéria que tive que segurar até ter todas as respostas. A lição que fica é: O importante de uma boa matéria é ela estar completa. Muitos amadores aqui na minha região usam seus blogs como fonte de renda e eu acho isso justo, porém, acabam oferecendo um serviço jornalistico de péssima qualidade e sem nenhum compromisso com os princípios básicos da informação.
Muitos deles tentam se esforçar, falam em profissionalismo e acabam deixando a desejar em muitos quesitos, em buscar de "dar o furo". Geram transtornos, desencontram informação, ouvem a primeira fonte sem apurar os fatos e tudo acaba virando bagunça. Não agravado a todos e, principalmente, sem deixar de citar os grandes sites da Bahia, que vez ou outra cometem os mesmo erros amadores que relatei acima.
Fazer um trabalho sério é complicado no meio disso tudo. E é como eu sempre digo: "Eu sabia que seria difícil".
A sensação de fechar uma matéria como essa e publicar é inexplicável. Não está numa capa de um importante jornal, em um site de grande porte da Bahia - desses que tem milhões de acessos por dia - , mas é um trabalho meu, que está ajudando a fomentar qualitativamente o MEU espaço.
E isso vale. Vale muito.
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Exclusivo: Mineradora clandestina está funcionando próximo a Barragem Pedra do Cavalo
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terça-feira, 4 de novembro de 2014
O lado bom das coisas ruins: O Reino Invisível das Prefeituras
Comecei a trabalhar em prefeitura antes de entrar na faculdade, em 2009. De lá pra cá, venho observando muita coisa. Ultimamente, tenho conhecido outras prefeituras. E acho que a análise pode ser feita de uma maneira bem humorada.
Acredito que há um Reino Invisível em prefeituras: Os perus, os politiqueiros que vivem em uma eterna campanha política, os que tudo sabem e nada fazem, os que se acham o prefeito, os forasteiros...
Vocês acham que um periodista de interior não repara nessas coisas?
Bem, conheça O Reino do Setor Público Municipal - Sob perspectiva de um Periodista.
Os 'perus' que sobrevivem ao Natal. Tem todos os número de celular do prefeito, endereço da casa de praia, fazenda e sítio. Almoçam com o prefeito uma vez na semana, no mínimo. Ele fala todos os dias com o prefeito, por telefone ou WhatsApp. Não lê ou assiste jornal, não entende o que é a tonga da mironga do cabuleté, mas dá opinião sobre todos os setores da prefeitura: Finanças, obras, cultura, saúde e educação. Sabe quem fala mal do prefeito na esquina, na praça, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê. Geralmente esse não depende exclusivamente da prefeitura, mas gosta de estar ao lado de "quem manda" na cidade. Sobrevivem ao natal e ficam o ano inteiro enchendo o saco.
Os que adoram mandar ou fingem que mandam. Esses são complexados. Cresceram sendo mandado pelos pais ou irmão mais velho. Casaram e são mandados por esposa ou marido. De repente, seu amigo ganha a política e lhe convida para assumir o cargo de limpador da bosta do cavalo do bandido que entrou na cidade e foi preso. Já é motivo suficiente para acreditar que ele pode mandar fazer chover. É comum quando estão na frente do prefeito ficarem calados e de cabeça baixa. Corroendo de raiva e ruindo por dentro. "PQP, esse cara manda mais do que eu.", pensam.
Os que só observam, levam o que sabem, contam o que sabem, observam a reação, e trazem de volta. Esses vivem os quatro anos de gestão nessa roda viva e gigante. Essa especie pode ser encontrada em todos os departamentos, secretarias e diretorias. São perigosos e a letalidade de suas palavras pode matar. Não há antidoto eficaz. Especialistas aconselham: Se você se deparar com um desses, apenas ouça e balance a cabeça. Não é garantia de nada, pois eles criam palavras e procriam histórias.
Os que nada fazem porque nada sabem. Entenderam? Dizem que cabeça vazia é a oficina do diabo. E esses que nada fazem porque nada sabem, meus amigos... Colam em alguém que sabe alguma coisa e pronto, vão sobrevivendo no Reino. Nos eventos políticos e institucionais, são usados para bater palmas e puxar coro de "viva ao prefeito".
Os politiqueiros profissionais. Pra esses a campanha política nunca acaba. Estão sempre apontado quem votou no adversário e achando que aquele deve ser expulso da cidade, do país e do universo. Esses sempre arrumam um cargo próximo de um secretário ou perto do prefeito. Quase sempre dizem que resolve tudo e conhecem todo mundo (jornalistas, outros prefeitos, autoridades de estado). Se pudessem, rodavam com carros de som a música de campanha do seu prefeito de manhã, de tarde e de noite, os quatro anos de mandato. Apesar da politicagem do dia a dia, são cordiais e amigáveis. Porém, alguns evoluem para a...
Ala Xiita da política. Treinados por descendentes de Osama Bin Laden, pós graduados no Hamas e com doutorado em fundamentalismo radical inquisitivo de resistência e destruição. É contra ao prefeito? Fogueira neles. O lema desses é: "Aos amigos tudo. Aos inimigos nada." Esses negam tudo a oposição. Quando são secretários de saúde, negam ambulância a um enfermo que foi oposição. Se forem professor e pudessem, separaria a merenda escolar em os da OPOSIÇÃO e os DO NOSSO QUERIDO E AMADO PREFEITO. Não aceitam novos membros no grupo. Acreditam que política se faz sozinho e que, graças a ele, o prefeito foi eleito.
Os acampados. São aqueles que participaram de uma caminhada, um comício, uma carreata. Esses (acreditam que) tem direito a tudo. Acham que os prefeitos devem fazer tudo de legal (ou ilegal) para atender as suas vontades. Geralmente trabalham 3 meses de campanha para garantir 4 anos de emprego. Querem apenas um cargo, qualquer um. Se não tiver, exige que o prefeito crie esse cargo. Quando não acham um trabalho, pegam suas barracas e se aliam a oposição.
Os Forasteiros. Tem também aquela turma que vem de fora (da cidade). Logo nomeados 'forasteiros' pelo próprio grupo político do prefeito eleito. Geralmente são técnicos, especialistas e consultores. Chegam na cidade em carros com ar condicionado, entram em suas salas com ar condicionado e vão embora em seus carros com ar condicionado. Não participam de eventos políticos ou institucionais. Alguns são indicações de compromissos políticos ou, realmente, bons no que fazem. "São forasteiros e não prestam. Tem que morrer.", gritam a ala xiita.
O Puxa Saco. Ahhhh, que não conhece um puxa saco dentro de uma prefeitura? Falam mal de todo mundo. Quando estão perto do prefeito, querem sempre falar mal de alguém da oposição. Do ex prefeito. De um vereador. De um inimigo do prefeito. Dizem que eles tem um alto grau de energização em prefeitos. Pois os alcaides adoram a presença constante dessa espécie por perto. Prefeitos aposentados dizem que puxa saco hidrata, revigora e revitaliza.
O amigo do Facebook. É aquele cidadão que trabalha na prefeitura e sempre compartilha tudo referente aos trabalhos da prefeitura na timeline dele e... na sua timeline! Uma dica pra se livrar dessa galera.
O Inconformado. Não sabe fazer nada. Não aparece um dia no setor de trabalho. E acha que ganha pouco pela campanha que fez para eleger o prefeito. Esses só mudam da categoria Inconformado para Os que nada fazem porque nada sabem se passarem a ganhar o salário de um vereador.
O Informante. Sabe de tudo o que acontece dentro da prefeitura e fora dela. Leva tudo pro prefeito quando pode. Frequenta todas as sessões da Câmara, participa de todos os eventos institucionais, ouve todos os programas de rádio e é o primeiro a ligar pra avisar ao prefeito quando uma denúncia aparece. Geralmente não estão em folha de pagamento. Devem ter, no minimo, um carro locado ou uma amante funcionária.
O Pai de Família. Esses aparecem durante a campanha. Ficam nas trincheiras. Atiram e recebem balas na guerra política. Quando o prefeito ganha tem a "obrigação moral", segundo eles, de empregar suas filhas, sobrinhas, primas, mulher, netos e, se tiver viva, sua tataravó.
O Todo Poderoso. Alguém que o prefeito escolhe, inconscientemente ou propositalmente, pra mandar depois dele. Mandar mesmo. Esse Todo Poderoso faz chover, abre caminhos e ainda faz chá e cafezinho pro prefeito. Quando não sabem fazer café, aprendem. Geralmente você conhece um Todo Poderoso pela quantidade de vezes que secretários, chefes de departamentos e vereadores ligados ao prefeito falam mal dele.
Bem, ainda há por aqui o lado bom das coisas ruins. Conviver nessa imensa variedade de personalidades é uma experiência espetacular.
Em um Reino Invisível de Prefeitura ainda tem os que estão lá por competência, por gestão e por eficiência. São profissionais capacitados que ajudam o município a ganhar asas.
Não existe gestor perfeito por excelência. Existe um bom líder e uma boa equipe.
Infelizmente, ainda tem prefeitos que deixam essa pequena parte do Reino Invisível tomar conta da situação. O resultado, nós já sabemos.
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Acredito que há um Reino Invisível em prefeituras: Os perus, os politiqueiros que vivem em uma eterna campanha política, os que tudo sabem e nada fazem, os que se acham o prefeito, os forasteiros...
Vocês acham que um periodista de interior não repara nessas coisas?
Bem, conheça O Reino do Setor Público Municipal - Sob perspectiva de um Periodista.
Os 'perus' que sobrevivem ao Natal. Tem todos os número de celular do prefeito, endereço da casa de praia, fazenda e sítio. Almoçam com o prefeito uma vez na semana, no mínimo. Ele fala todos os dias com o prefeito, por telefone ou WhatsApp. Não lê ou assiste jornal, não entende o que é a tonga da mironga do cabuleté, mas dá opinião sobre todos os setores da prefeitura: Finanças, obras, cultura, saúde e educação. Sabe quem fala mal do prefeito na esquina, na praça, na rua, na chuva ou numa casinha de sapê. Geralmente esse não depende exclusivamente da prefeitura, mas gosta de estar ao lado de "quem manda" na cidade. Sobrevivem ao natal e ficam o ano inteiro enchendo o saco.
Os que adoram mandar ou fingem que mandam. Esses são complexados. Cresceram sendo mandado pelos pais ou irmão mais velho. Casaram e são mandados por esposa ou marido. De repente, seu amigo ganha a política e lhe convida para assumir o cargo de limpador da bosta do cavalo do bandido que entrou na cidade e foi preso. Já é motivo suficiente para acreditar que ele pode mandar fazer chover. É comum quando estão na frente do prefeito ficarem calados e de cabeça baixa. Corroendo de raiva e ruindo por dentro. "PQP, esse cara manda mais do que eu.", pensam.
Os que só observam, levam o que sabem, contam o que sabem, observam a reação, e trazem de volta. Esses vivem os quatro anos de gestão nessa roda viva e gigante. Essa especie pode ser encontrada em todos os departamentos, secretarias e diretorias. São perigosos e a letalidade de suas palavras pode matar. Não há antidoto eficaz. Especialistas aconselham: Se você se deparar com um desses, apenas ouça e balance a cabeça. Não é garantia de nada, pois eles criam palavras e procriam histórias.
Os que nada fazem porque nada sabem. Entenderam? Dizem que cabeça vazia é a oficina do diabo. E esses que nada fazem porque nada sabem, meus amigos... Colam em alguém que sabe alguma coisa e pronto, vão sobrevivendo no Reino. Nos eventos políticos e institucionais, são usados para bater palmas e puxar coro de "viva ao prefeito".
Os politiqueiros profissionais. Pra esses a campanha política nunca acaba. Estão sempre apontado quem votou no adversário e achando que aquele deve ser expulso da cidade, do país e do universo. Esses sempre arrumam um cargo próximo de um secretário ou perto do prefeito. Quase sempre dizem que resolve tudo e conhecem todo mundo (jornalistas, outros prefeitos, autoridades de estado). Se pudessem, rodavam com carros de som a música de campanha do seu prefeito de manhã, de tarde e de noite, os quatro anos de mandato. Apesar da politicagem do dia a dia, são cordiais e amigáveis. Porém, alguns evoluem para a...
Ala Xiita da política. Treinados por descendentes de Osama Bin Laden, pós graduados no Hamas e com doutorado em fundamentalismo radical inquisitivo de resistência e destruição. É contra ao prefeito? Fogueira neles. O lema desses é: "Aos amigos tudo. Aos inimigos nada." Esses negam tudo a oposição. Quando são secretários de saúde, negam ambulância a um enfermo que foi oposição. Se forem professor e pudessem, separaria a merenda escolar em os da OPOSIÇÃO e os DO NOSSO QUERIDO E AMADO PREFEITO. Não aceitam novos membros no grupo. Acreditam que política se faz sozinho e que, graças a ele, o prefeito foi eleito.
Os acampados. São aqueles que participaram de uma caminhada, um comício, uma carreata. Esses (acreditam que) tem direito a tudo. Acham que os prefeitos devem fazer tudo de legal (ou ilegal) para atender as suas vontades. Geralmente trabalham 3 meses de campanha para garantir 4 anos de emprego. Querem apenas um cargo, qualquer um. Se não tiver, exige que o prefeito crie esse cargo. Quando não acham um trabalho, pegam suas barracas e se aliam a oposição.
Os Forasteiros. Tem também aquela turma que vem de fora (da cidade). Logo nomeados 'forasteiros' pelo próprio grupo político do prefeito eleito. Geralmente são técnicos, especialistas e consultores. Chegam na cidade em carros com ar condicionado, entram em suas salas com ar condicionado e vão embora em seus carros com ar condicionado. Não participam de eventos políticos ou institucionais. Alguns são indicações de compromissos políticos ou, realmente, bons no que fazem. "São forasteiros e não prestam. Tem que morrer.", gritam a ala xiita.
O Puxa Saco. Ahhhh, que não conhece um puxa saco dentro de uma prefeitura? Falam mal de todo mundo. Quando estão perto do prefeito, querem sempre falar mal de alguém da oposição. Do ex prefeito. De um vereador. De um inimigo do prefeito. Dizem que eles tem um alto grau de energização em prefeitos. Pois os alcaides adoram a presença constante dessa espécie por perto. Prefeitos aposentados dizem que puxa saco hidrata, revigora e revitaliza.
O amigo do Facebook. É aquele cidadão que trabalha na prefeitura e sempre compartilha tudo referente aos trabalhos da prefeitura na timeline dele e... na sua timeline! Uma dica pra se livrar dessa galera.
O Inconformado. Não sabe fazer nada. Não aparece um dia no setor de trabalho. E acha que ganha pouco pela campanha que fez para eleger o prefeito. Esses só mudam da categoria Inconformado para Os que nada fazem porque nada sabem se passarem a ganhar o salário de um vereador.
O Informante. Sabe de tudo o que acontece dentro da prefeitura e fora dela. Leva tudo pro prefeito quando pode. Frequenta todas as sessões da Câmara, participa de todos os eventos institucionais, ouve todos os programas de rádio e é o primeiro a ligar pra avisar ao prefeito quando uma denúncia aparece. Geralmente não estão em folha de pagamento. Devem ter, no minimo, um carro locado ou uma amante funcionária.
O Pai de Família. Esses aparecem durante a campanha. Ficam nas trincheiras. Atiram e recebem balas na guerra política. Quando o prefeito ganha tem a "obrigação moral", segundo eles, de empregar suas filhas, sobrinhas, primas, mulher, netos e, se tiver viva, sua tataravó.
O Todo Poderoso. Alguém que o prefeito escolhe, inconscientemente ou propositalmente, pra mandar depois dele. Mandar mesmo. Esse Todo Poderoso faz chover, abre caminhos e ainda faz chá e cafezinho pro prefeito. Quando não sabem fazer café, aprendem. Geralmente você conhece um Todo Poderoso pela quantidade de vezes que secretários, chefes de departamentos e vereadores ligados ao prefeito falam mal dele.
Bem, ainda há por aqui o lado bom das coisas ruins. Conviver nessa imensa variedade de personalidades é uma experiência espetacular.
Em um Reino Invisível de Prefeitura ainda tem os que estão lá por competência, por gestão e por eficiência. São profissionais capacitados que ajudam o município a ganhar asas.
Não existe gestor perfeito por excelência. Existe um bom líder e uma boa equipe.
Infelizmente, ainda tem prefeitos que deixam essa pequena parte do Reino Invisível tomar conta da situação. O resultado, nós já sabemos.
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terça-feira, 30 de setembro de 2014
É difícil começar, mas começar é preciso

Desde que relancei o projeto do site Primogênio Notícias, em setembro de 2013, pensei em fazer algo voltado pro informal. Pro bate-papo. Pro bastidor daquilo que faço por lá.
Aos poucos, com o passar das postagens, que não têm data pra acontecer nem uma periodicidade estabelecida, vou contando como surgiu o site (Porém, quem quiser se antecipar, clica aqui e descobre logo), como está sendo o seu desenvolvimento, o que ando fazendo e as desventuras e aventuras da vida de um pleiteante ao cargo de jornalista, iniciando a sua carreira numa cidade pequena, que é o caso de Muritiba, recôncavo baiano.
Bem, levou quase um ano a vontade de fazer para acontecer.
Mas como começar é preciso, eis aqui o parto.
Quero lembrar que esse não é um espaço para tecnicidades, bobagens, celeumas gráficas e datilográficas. Mesmo porque, terei dias que de tão puto ou cansado, esse fundamentalismo religioso da língua portuguesa será o menor dos meus problemas.
Ressalto, claro, que acho toda essa frescura muito importante para profissão de jornalista. Escrever bem, correto e com clareza é o seu principio básico. O lance é quando a palavra vem da alma, passeia pelo corpo, leva pra mente e a mente, sabiamente, joga tudo nas pontas dos dedos. Pode dar merda. Uma virgula, um acento, uma concordância. Bem, aqui o espaço é meu. Um dia, quem sabe, tudo isso vire um livro, uma peça, um teatro ou comédia.
Nesse espaço, vou compartilhar com vocês o dia a dia, ou um dia especifico, da vida de um estudante de jornalismo no interior que aventurou fazer jornalismo de gente grande.
Até mais!
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